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segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

Des Gens Intéressants

 


Pourquoi ce blog - João Schwarz da silva

Il y a quelques années, l'âge venant, j'ai eu envie de retracer la vie et le contexte de vie d'un certain nombre de gens de ma famille qui avaient traversé des moments difficiles ou passionnants dans leur vie. Plus personne n'est de ce monde. Ce qui les caractérisent tous c'est le fait qu'ils ont été, à des degrés divers,  les victimes de leurs croyances, de leur positionnement politique ou tout simplement de leur soif de liberté. Ils ont traversé le siècle et les guerres de l'époque, et très souvent ont traversé des continents pour trouver un monde meilleur.

Mon arrière grand-père Ysucher Szwarc est mort à Zgierz lors de l'invasion nazi de la Pologne en Décembre 1939. Ysucher eu de son mariage avec Sara (Salomeia) onze enfants.
Mon autre arrière grand-père Samuel Matusovitch Barbash fut fusillé par les bolcheviques lors de la prise de Odessa en 1920. Samuel eu de son mariage avec Klara deux fils et deux filles. 
Un de ses fils Boris Barbash après des études à Bruxelles et des visites en Europe et en Palestine est parti à Shanghai après la première guerre mondiale ou il est mort.
Mon grand-père Samuel Schwarz a été l'objet d'un antisémitisme bon teint qui avait cours au Portugal et cela n'empêcha pas de faire des découvertes sensationnelles concernant l'histoire et le patrimoine juif du Portugal. 
Mon père Artur Augusto Silva fut emprisonné de par ses idées contraires à celles du regime en vigueur au Portugal.  Il avait osé défendre des "terroristes" à Bissau dans l'ex Guiné Portugaise. Les membres de sa famille sont originaires  de l'Ile de Madère et furent expulsés  à l'Ile de Brava à une époque ou le fait d'avoir des esclaves était normal. 
Son frère Joao Augusto Silva fut un formidable photographe, dessinateur et écrivain. 
David Szwarc fils d'un frère de mon grand-père Samuel put s'échapper du ghetto de Varsovie alors que sa famille y est restée. 
Un oncle Alexandre Szwarc frère de Samuel,  fut fait prisonnier par les russes en 1940 et put s'échapper en passant par le Portugal pour ensuite aller au Canada. 
Mon beau-père Jean Roger Chansel qui fut pilote de l'aéropostale a trouvé la mort dans un accident au Mont Cameroun en 1953. 
Marek Szwarc, un des frères de mon grand-père, juif à la naissance, se convertit au catholicisme  et est devenu un peintre et sculpteur de l'Ecole de Paris. 
Tereska Torres la fille de Marek a du fuir Paris au moment de l'invasion de la France par les nazis en 1940, et fut une des premières femmes à rejoindre le Général De Gaule à Londres.  
Le tout dernier mais d'autres suivront, est mon frère Carlos qui né à Bissau et y ayant vécu toute sa jeunesse, est revenu en Guiné au moment de l'indépendance pour s'y installer et y contribuer au nouveau monde pensé par Amilcar Cabral. 

Au fur et à mesure que  je trouverais le temps de trouver les documents, photos et autres bouts d’histoire, d'autres personnages viendront habiter ce blog. 

Pour accompagner ce blog voir les liens suivants:

Voici quelques vidéos prises à des moments différents mas qui ont pour thème commun soit un des membres de la famille soit un site (Belmonte ou Tomar) qui s’integre parfaitement dans la vie de Samuel Schwarz.

Antes da apresentação dos videos, duas emissões de radio que tiveram lugar em 2015 e 2016. A primeira das emissões teve lugar na sequência da apresentação do livro de Samuel Schwarz “La Découverte des Marranes” em 2015 em Paris. A entrevista em francês de Livia Parnes et João Schwarz foi feita por Ariel Sion da Radio Judaica em Paris.

Emissão sobre Samuel Schwarz

A segunda emissão teve por objecto a familia de Samuel Matusovitch Barbash e teve lugar em Janeiro de 2016. A entrevista em francês de João Schwarz foi realizada por Ariel Sion de Radio Judaica em Paris.

Emissão sobre Samuel Matusovitch Barbash 

Presentation du livre “La Découverte des Marranes” au Musée d’Art et d'Histoire du Judaïsme de Paris le 18 Fevrier 2016

https://www.mahj.org/fr/media/quand-le-portugal-redecouvre-ses-marranes

Entrevista de Clara Schwarz, José Melo e Antonieta Garcia sobre a vida e obra de Samuel Schwarz. Filme realizado pela Comunidade Israelita de Lisboa em 2004

Entrevista de Clara Schwarz por Jose Melo e Antonieta Garcia

Musica Klezmer na casa de Clara Schwarz da Silva em São Martinho do Porto 

https://www.youtube.com/watch?v=Kl4RWav1NdQ&t=2s

La communauté marrane de Belmonte au Portugal par João Schwarz 

https://www.youtube.com/watch?v=xCJWe8ZPjfM&t=1s

Entrevista de João Schwarz sobre a doação da familia ao Tikva Museu Judaico de Lisboa

Entrevista de João Schwarz para o Museu Judaico de Lisboa

La ville de Tomar, sa synagogue et son histoire par Samuel et João Schwarz. Film de Livia Parnes 

https://www.youtube.com/watch?v=UnqmXYvRiJk&t=7s

Samuel Schwarz - O Descobridor dos judeus de Belmonte 

https://www.youtube.com/watch?v=JdLieK2fJ_M&t=1s

Visita ao Museu de Belmonte

Visita ao Museu Judaico de Belmonte

Publicação do livro “Orações Criptojudaicas”

Publicação do livro sobre Orações Cripto-Judaicas

Entrevista de Clara Schwarz por Esther Musznik

Clara Schwarz entrevistada por Esther Musznik

Visita Guiada à Sinagoga de Tomar, em Tomar - Portugal por Maria José Ferro Tavares

https://www.youtube.com/watch?v=s6YuKpOoDzw&t=1s

Memórias de Clara Schwarz entrevistada pelo João em São Martinho do Porto (1)

Memorias de Clara Schwarz parte 1

Memórias de Clara Schwarz entrevistada pelo João em São Martinho do Porto (2)

 https://www.youtube.com/watch?v=hEIcBpJS9_o

Memórias de Clara Schwarz entrevistada pelo João em São Martinho do Porto (3)

 https://www.youtube.com/watch?v=KPoouWzArlc

A biblioteca de Samuel Schwarz (Universidade Nova)

https://www.youtube.com/watch?v=XYSZIUEdf9Q&t=22s

Eu lembro-me (Espaço Memória dos Exílios) Entrevista de João Schwarz por Ines Brandão

Espaço Memoria dos Exilios

Dans le cadre des émissions de ARTE sur l'Initiation au voyage voici une émission sur Tomar, Belmonte et  l'histoire juive du Portugal


A l'occasion de l'inauguration de l'exposition des éditions Chandeigne sur la Diaspora Juive Portugaise qui a eu lieu le 8 Décembre 2023 a la Synagogue de Tomar voici un enregistrement video fait par João Schwarz

Inauguration de l'exposition à Tomar



domingo, 7 de janeiro de 2024

L’Affaire Gaté: o mirabolante desaparecimento de um avião na Guiné em 1933

                                                     

Primeira Parte - L’Affaire Gaté: o mirabolante desaparecimento de um avião, com guerra em chão Felupe  por Mário Beja Santos com a devida vénia.

Nos Reservados da Biblioteca da Sociedade de Geografia aparecem dois relatórios com a assinatura do Capitão Jorge Frederico Torres Velez Caroço, Diretor dos Serviços e Negócios Indígenas, em que apresenta ao Governador Carvalho Viegas o resultado das pesquisas desenvolvidas por uma comissão de inquérito que envolveu autoridades francesas e portuguesas para apurar se um desaparecido avião francês tinha aterrado em solo colonial português, houvera denúncias que testemunharam que tal tinha acontecido. São documentos de leitura obrigatória e procuram clarificar um extenso comentário do historiador René Pélissier no seu trabalho "História da Guiné, portugueses e africanos na Senegâmbia 1841-1936", Volume II, Editorial Estampa, 1997; acontece igualmente que o assunto aparece tratado também no ano do desaparecimento do avião (1933), num relatório enviado pela delegação do BNU na Guiné para a sede em Lisboa, e que consta do meu livro "Os Cronistas desconhecidos do canal de Geba, o BNU da Guiné", Húmus, 2019.

Comecemos por René Pélissier, que teve a faculdade de consultar arquivos em França sobre o assunto, inicia o seu texto por nos falar nas rebeliões dos Felupes (1933, 1934, 1935), na mitologia de que eram antropófagos, o que nunca se demonstrou, e lança-se diretamente em L’Affaire Gaté, dando-nos a cronologia dos acontecimentos. Tudo começou no dia 30 de junho de 1933, enquanto executavam um exercício de voo em altitude, dois aviadores da Base Aérea de Dacar, o Ajudante-chefe Gaté e o Sargento Mecânico Brée, apanhados num tornado, desaparecem no seu Potez-Salmson; no mês seguinte, as autoridades da base procederam a buscas, não encontraram o aparelho nem os corpos, arquivaram o caso, não foram conhecidas buscas desenvolvidas pelas autoridades portuguesas; no verão, a Senhora Gaté, insatisfeita com o inquérito oficial, a expensas suas, ciente que o marido está vivo, vem ao Senegal, entra em contato com o Senhor Figuié, este encarrega um agente seu, Moussa N’Doye, de procurar saber mais em meio africano; na Gâmbia como no Casamansa, obtém informações de um avião avistado dirigindo-se para sul; a Senhora Gaté, acompanhada pelo casal Figuié e Moussa N’Doye entram em chão felupe guineense; esta missão contata em Susana Apaim-Ba, conhecido por Alfredo, feiticeiro de Jufunco, este declara não ter visto qualquer avião; o administrador de Canchungo, comandante Joaquim Esteves, junta-se aos franceses, convoca uma reunião com Felupes; os chefes declaram nada saber, mas Mamadu Sissé diz que viu um avião dirigindo-se para o sul que deve ter aterrado em Jufunco; a Senhora Gaté parte para Bissau e depois para Bolama, onde o Governador Carvalho Viegas mostra o processo das investigações e facilita a viagem à Senhora Gaté, que regressa aos Felupes; inopinadamente, há Felupes que afirmam que o avião está em Jufunco, entregam a Esteves um pedaço de lona do avião, trazido por um africano, dizendo que o encontrou em Jufunco, se tudo estava mirabolante mais mirabolante ficou quando o comandante Esteves declara que o dito Alfredo quis mandá-lo assassinar, ele vai ser interrogado pelos franceses; aparece agora Capitão Velez Caroço, manda prender Alfredo, em Susana o comandante Esteves interroga os suspeitos à palmatória, depois de torturado Alfredo confessa que o avião aterrou em Jufunco, dá informações contraditórias sobre os dois aviadores e diz que recebeu instruções do Deus da Guerra para destruir o avião, continua o interrogatório, as versões dos prisioneiros divergem cada vez mais, depois os prisioneiros invadem-se, chegam soldados e metralhadoras de Susana, Velez Caroço recomeça os interrogatórios, é-lhe dito que o avião foi desenterrado – temos aqui já todos os ingredientes para uma telenovela de aventura e ação, com pozinhos de crime e mistério; Velez Caroço e as tropas partem de Susana para Jufunco, a zona é militarizada, chegam dois oficiais aviadores franceses ao S. Domingos, há notícia de combates em frente de Jufunco, o capitão de armas de Bolama, Joaquim Sinel de Cordes, parte para ir buscar reforços e acabar com a resistência de Jufunco, vive-se já um clima de guerra, Alfredo invadiu-se e passou pela Casamansa, os Felupes refugiaram-se na floresta; já em novembro, Moussa N’Doye regressa a Dacar e anuncia que os portugueses queimaram Jufunco – esta é a versão dos factos nas fontes francesas, de uma hipótese nunca fundamentada de que um avião francês, por obra do acaso, ter aterrado em Jufunco, estalou a rebelião dos Felupes; toda esta sequência trágica irá prolongar-se por 1934 e 1935, como René Pélissier pormenoriza: o Exército está em chão Felupe, ali passa seis meses, desconhece-se o número real das baixas dos Felupes, tudo se agudiza em maio de 1934, nova ofensiva contra os Felupes; em Paris, a Senhora Gaté não desarma, escreve para os órgãos de soberania, diz que o marido está preso nos Bijagós pelos alemães, e diz mesmo existir no arquipélago uma base naval alemã, a tragicomédia refina-se, as operações contra os Felupes prosseguem. 

É altura de fazer ouvir o responsável pelo BNU da Guiné, ele recebera de Lisboa o seguinte telegrama: “Este telegrama é absolutamente confidencial e só poderá ser decifrado pelo gerente devendo na sua ausência ser devolvido indecifrado ao expedidor – telegrafe-se se o gentio se revoltou – telegrafe se ordem restabelecida quem e como foi sufocada a operação. Telegrafe as notícias que puder pormenorizando”. 

A 13, em carta talhada o gerente de Bissau escreve para Lisboa:

“Há cerca de 3 meses levantou voo de Dacar com destino a Ziguinchor um avião francês tripulado por aviador e acompanhado de um observador. Por qualquer razão desconhecida – diz-se que fugindo a um tornado, o avião desviou-se da sua rota e presume-se que por falta de gasolina tenha caído em território desta colónia, a uns 40 ou 50 quilómetros da fronteira norte, na região dos Felupes, área do posto civil de Susana, circunscrição de Canchungo. O governo francês, supondo que o avião tenha de facto caído nesta região, solicitou do nosso que mandasse proceder às necessárias pesquisas. Diz-se que essas pesquisas foram efetuadas sem resultado. Há 20 dias, pouco mais ou menos, apareceram na área do posto de Susana, a mulher do aviador desaparecido e uma outra senhora francesa, acompanhadas de um sargento aviador francês e ainda de um outro indivíduo que se dizia comerciante de Dacar, para fazerem, por sua vez, novas pesquisas. O governador autorizou e este grupo regressou ao posto de Susana acompanhado pelo ajudante de campo do governador. Em breve começaram a circular boatos sobre o aparecimento de vestígios do avião. O Capitão Velez Caroço, notando certo retraimento do gentio, receando qualquer agressão dos Felupes, que desde sempre se tem mantido mais ou menos rebelde, pagando o imposto positivamente quando e como quer, sem que lhes tenha sido aplicado o corretivo necessário por falta de recursos, cobardia ou desleixo, resolveu, de acordo com o governador, não continuar as suas diligências sem se fazer acompanhar de uma pequena força militar. 

Regressaram a Bissau e daqui partiram de novo para Susana, armados e municiados. Os Felupes receberam-nos hostilmente, travando-se um combate em que morreram 2 soldados, ficando vários feridos. Imediatamente seguiu para o local o Capitão Sinel de Cordes, que castigou os revoltosos, tanto mais que já no ano passado, na mesma região, tinham cortado a cabeça a 5 soldados. Entretanto, era mandado chamar Bora Sanhá, alferes de segunda linha, para se lhe ordenar que organizasse o mais rápido possível um grupo de irregulares Fulas, com o fim de coadjuvarem as tropas regulares. Poucas horas depois, Bora Sanhá escolhia 100 homens da sua confiança, alguns deles seus antigos companheiros de armas, embarcaram para Jufunco. Corriam os mais desencontrados boatos sobre o que se estava a passar com os Felupes. O Capitão Sinel de Cordes assumiu o comando de regulares e irregulares, ao todo cerca de 400 armas e 5 metralhadoras, começando a bater os revoltosos com a energia que o momento impunha. Os revoltosos refugiram-se entre pântanos. O governador seguiu para o campo de operações. Voltando a Bissau, o governador trocou impressões comigo sobre o que se passava com os Felupes. Que tinham sofrido importantes baixas, resolvera dar por finda as operações, visto que os acontecimentos não tinham a gravidade que lhes atribuía. As nossas tropas, à custa de sacrifícios grandes, tem avançado e arrasado todas as populações por onde têm passado, incendiando as palhotas e destruindo as culturas”.

A carta é longa, tem o condão de introduzir importantes detalhes sobre tudo o que se passou e que, mais adiante encontrará os relatórios posteriores de Velez Caroço, depositado nos Reservados da Sociedade de Geografia de Lisboa, aspetos complementares de grande interesse, se bem que, há que o reconhecer, toda esta história não tem pés nem cabeça se atendermos aos relatórios franceses que davam como seguro que o desastre aéreo ocorrera noutras paragens. E vemos misturados a compreensível ansiedade da Senhora Gaté com o encadeamento de rebeliões Felupes que dão a toda esta trama o ar de uma telenovela de tempos coloniais, onde se cruzam hipóteses absurdas de uma base naval alemã nos Bijagós, interrogatórios brutais a Felupes e a ganância de informadores que a troco de compensações de alguns milhares de francos inventavam a queda de um avião que uns viam ter passado, mas que concretamente ninguém sabia dizer para onde. Que o leitor se prepare, há ainda mais condimentos para adubar esta história verdadeiramente estereofónica.

Segunda Parte - L’Affaire Gaté: o mirabolante desaparecimento de um avião, com guerra em chão Felupe por  Mário Beja Santos com a devida vénia

Fez-se referência no texto anterior a um conjunto de diligências associadas ao desaparecimento de um avião francês, o relatório oficial de Dacar dava-o como desaparecido no mar, por efeito de um tornado, a mulher do aviador não estava conformada, apelou às autoridades francesas, seguiu-se um conjunto de diligências, não conduziram a coisa nenhuma.
Vejamos agora o relatório dos Serviços de Negócios Indígenas, referente ao ano de 1934, assinado pelo Capitão Velez Caroço, este tivera grave contencioso com o governador, houve mesmo apreciação em Lisboa do seu comportamento, processo arquivado, daí poder entender-se o cuidado da sua escrita sobre o Caso Gaté. Observa que toda a sua ação dentro da colónia foi a de conseguir o regresso dos indígenas refugiados em território francês e procurar a pacificação da região com a cooperação das autoridades de Ziguinchor. Tinha acompanhado o jornalista Didier Poulain na sua visita à região dos Felupes e, igualmente, enquanto membro da Comissão Internacional sobre o Affaire Gaté procurara desempenhar da melhor maneira a sua missão tanto em território nacional como em território francês. E dirige-se ao governador do seguinte modo: “Brevemente serei afastado desta Direção de Serviços. Apenas terei de dizer a V. Exª que deixo com eles a saudade de não poder levar ao fim dos problemas, que era meu desejo concluir, saindo com a consciência tranquila de que trabalhei quanto pude o mais e melhor que sei”. A data deste relatório é de 30 de março de 1935, Bolama.

Convirá ter-se em atenção, neste acervo que está nos Reservados da Biblioteca da Sociedade de Geografia a outros documentos, logo o aditamento que o dito Capitão Jorge Velez Caroço fez ao relatório sobre a visita à região dos Felupes do jornalista Didier Poulain, a data é de novembro de 1934:

“Na visita ao Administrador Superior do Casamansa, Mr. Chartier, foi-me revelado que o órgão parisiense Le Journal, largamente subsidiado por Madame Gaté vinha proceder a investigações sobre a queda do avião tripulado pelo marido e para tal incumbira o jornalista e aviador Didier Poulain. Depois da sua estada na região, o referido jornalista tinha a convicção de que o aeroplano caíra na região dos Felupes. O jornalista do Le Matin chegara a conclusões totalmente opostas. O guia de Didier Poulain, de nome Mussá, apenas pôde informar ter visto um avião sobre Carabar, não garantia a data em que o avião fora visto, tendo, no entanto, apurado que as horas a que foi visto esse avião não condiziam com as do voo do avião de Gaté, o avião teria sido visto a uma hora em que o aviador Gaté nem sequer tinha ainda levantado voo. Este Didier Poulain prestou informações falsas a Madame Gaté. O administrador do Casamansa informou o seu governo que o avião de Gaté não podia ter caído na nossa Guiné, mas sim nos mares, e possivelmente bem perto do ponto de partida. 

Vários aviadores se tinham pronunciado que nem as condições atmosféricas nem a quantidade de gasolina que continha o depósito do avião de Gaté lhe permitiam o voo tão longo, não podendo atingir a Guiné Portuguesa. O jornalista Didier Poulain visitou Jufunco e toda a região dos Felupes e se não viu mais foi porque não quis ver”.

Igualmente há que ter em conta o relatório sobre a visita à região dos Felupes de Didier Poulain, feito igualmente pelo Capitão Jorge Velez Caroço, datado de outubro de 1934. A missão era a de acompanhar o jornalista na sua visita a Jufunco, procurando indagar dos fins com que essa visita se fazia e características especiais que a definiam.

“Didier Poulain era capitão aviador e combateu na Grande Guerra. Encontra-se presentemente ao serviço do Affaire Gaté. Diz-se interessado nos usos e custos indígenas. O Capitão Rouxel voara anteriormente sobre território português sem respeito pelas condições que haviam sido estabelecidas pelo governo da colónia. O Capitão Rouxel agira incorretamente. Madame Gaté fora acompanhada na sua visita à região Felupe por Mr. Figuier, um comerciante que afirmara ao signatário que pouca importância mereciam as informações de Madame Gaté. Cheguei à conclusão de que o avião Gaté não aterrou na Guiné Portuguesa. A receção dos Felupes aos visitantes franceses foi muito cordial. O guia de Madame Gaté fora habilidoso a pôr todos os indígenas a dizer que sim a todas as perguntas de Madame Gaté. Apareceu extemporaneamente um pedaço de tela de avião conforme mostrou o Sargento Chambon, que acompanhara Madame Gaté.

As próprias autoridades francesas tinham concluído não haver provas da queda do avião Gaté. Didier Poulain criticava o facto de o governo francês ter consentido sempre que Madame Gaté procedesse a investigações particulares. Didier referiu a versão que Madame Gaté fez correr de que o marido estava nos Bijagós prisioneiro dos alemães”.

E vai tecer mais considerações que tem a ver com a missão e extrapolam, fala sobre o problema missionário em que era escandalosa a intrusão francesa preparando indígenas da nossa colónia. Os missionários franceses ensinavam os nossos indígenas a exprimirem-se em crioulo. Criticava igualmente as missões portuguesas que só procuravam instalar-se nos grandes meios, fugiam às duras provas de trabalhar no interior do mato.

Temos agora o relatório da comissão internacional franco-portuguesa com vista a encontrar os restos do avião desaparecido em 30 de junho de 1933, no decurso de um voo experimental que tinha na tripulação o Piloto-ajudante Gaté e como passageiro o Sargento Brée. Portugal fazia-se representar pelo Capitão Jorge Velez Caroço e pelo Administrador Arrobas Martins, responsável pela região dos Felupes em Susana; a França fazia-se representar pelo Capitão Dendoid, reuniram-se em 18 de dezembro de 1934 em Ziguinchor e começaram as suas pesquisas em 22 de dezembro. Nos Bijagós Madame Gaté pretendia que o seu marido estava prisioneiro numa companhia alemã, concessionária num grupo que fazia a exploração do óleo de palma. A comissão visitou várias ilhas sem qualquer resultado. E acontece que a empresa alemã a que Madame Gaté fazia referência tinha capitais mistos portugueses e alemães. Não fazia qualquer sentido que aquela empresa retivesse como prisioneiros dois aviadores que teriam sido transportados por mar, já que o avião não tinha combustível para chegar aos Bijagós. O governador português também deu conta da informação que lhe fora prestada pelo Coronel do Regimento de Atiradores Senegaleses, em Dacar, ele tinha a convicção de que o avião caíra no mar. O governador pedia que se verificasse a informação antes de começarem as pesquisas na região dos Felupes.

Temos agora outro documento, o relatório da Comissão Franco-Portuguesa constituída para encontrar os restos do avião Potez-Salmson n.º 821, desaparecido em 30 de junho de 1933 no decurso do voo experimental acima de Cabo Verde. Dá-se a constituição do grupo, do lado português estão presentes o Capitão Velez Caroço e também o Administrador Martins. Apareceu, segundo se ouviu dizer, um pedaço de tela em território Felupe, na Guiné portuguesa, mas a testemunha ouvida pela Comissão Franco-Portuguesa não conseguiu obter informações precisas por quem inicialmente fizera tal declaração, Moussa N’Doyle, estava em Dacar e de lá não saía. Dava-se um prémio da região Felupe do Senegal a quem entregasse uma peça do avião desaparecido ou informações que permitissem encontrar o aparelho. Madame Gaté trouxera uma grande quantidade de tela para a Guiné e distribuiu-a pelos indígenas. Velez Caroço escreve o seguinte: “nós encontrámos 1 m2 em Bolama e cerca de 3-4 m2 em Susana. Esta tela não pode de modo algum ser considerada como proveniente do avião de Gaté”. Para Velez Caroço tinham sido 15 dias de inquéritos inúteis na região Felupe, o Coronel Comandante do 7.º Regimento de Atiradores Senegaleses era peremptório de que o avião tinha sido atingido por um tornado. Foram ouvidos outros depoimentos e a questão do tornado era uma constante. Em 8 de fevereiro de 1935 Velez Caroço faz o seu relatório, é profundamente cáustico: nascera a lenda dos aviadores devorados pelos antropófagos de Jufunco; contradiziam-se as declarações de quem vira e de quando um avião, até já se falava na fronteira da Gâmbia e do Senegal; eram completamente fantasiosas as declarações de Moussa N’Doyle; chegara-se ao cúmulo de alguém ter dito que vira uma peça grande metálica, de forma cilíndrica, que se assemelhava ao motor do avião, veio-se a descobrir que não passava de uma caldeira de alambique; fizera-se um reconhecimento aéreo na região Felupe, sem quaisquer resultados, embora houvesse ali locais onde o avião pudesse aterrar; e alerta o governador para casos de indisciplina, desobediência e agressão às autoridades administrativas portuguesas em região Felupe. Concluído a consulta deste acervo, vamos dar a palavra ao chefe da delegação do BNU, enviou relatório sobre toda esta questão para Lisboa.


Terceira Parte - L’Affaire Gaté: o mirabolante desaparecimento de um avião, com guerra em chão Felupe 
por  Mário Beja Santos com a devida vénia


Aquele ano de 1933 em que ocorreu o desaparecimento do avião do piloto Gaté foi praticamente dominado pela chamada revolta dos Felupes. Na investigação a que procedi no então Arquivo Histórico do BNU, encontrei um telegrama datado de 10 de novembro desse ano, provém da administração em Lisboa, com o seguinte teor: “Este telegrama é absolutamente confidencial e só poderá ser decifrado pelo gerente devendo na sua ausência ser devolvido indecifrado ao expedidor – telegrafe-se se o gentio se revoltou – telegrafe-se se ordem restabelecida quem como foi sufocada a alteração. Telegrafe as notícias que puder pormenorizando. Este telegrama é absolutamente confidencial para toda e qualquer pessoa seja qual for a sua categoria”. 

No dia 13, o gerente de Bissau envia carta detalhada ao administrador do BNU:

“Há cerca de 3 meses levantou voo de Dacar, com destino a Ziguinchor, um avião francês tripulado pelo aviador Gatti (na verdade, o seu nome era Gaté) acompanhado de um observador. Por qualquer razão desconhecida – diz-se que fugindo a um tornado, o avião desviou-se da sua rota e presume-se que por falta de gasolina tenha caído em território desta colónia, a uns 40 ou 50 quilómetros da fronteira Norte, na região dos Felupes, área do posto civil de Susana, circunscrição de Canchungo.

O governo francês, supondo que o avião tenha de facto caído nesta região, solicitou do nosso que mandasse proceder às necessárias pesquisas. Diz-se que essas pesquisas foram efetuadas sem resultado. Há 20 dias, pouco mais ou menos, apareceram na área do posto de Susana a mulher do aviador desaparecido e uma outra senhora francesa acompanhada de um sargento aviador francês e ainda de um outro indivíduo que se dizia comerciante de Dacar, para fazerem por sua vez, novas pesquisas.

O administrador da circunscrição não consentiu nessas diligências sem autorização superior, essa equipa francesa foi a Bolama conferenciar com o governador, regressando ao posto de Susana acompanhada pelo ajudante de campo deste.

Em breve começaram a circular boatos sobre o aparecimento de vestígios do avião e dois ou três dias depois seguia também para Susana o Diretor dos Serviços e Negócios Indígenas, capitão Velez Caroço. Afirma-se que este oficial, depois de iniciadas novas pesquisas, notando certo retraimento do gentio, receando qualquer agressão dos Felupes que desde sempre se têm mantido mais ou menos rebeldes, pagando o imposto positivamente quando e como quer, sem que lhes tenha sido aplicado o corretivo necessário por falta de recursos, cobardia ou desleixo, resolveu, de acordo com o governador, não continuar as suas diligências sem se fazer acompanhar de uma pequena força militar.

No dia seguinte ao da ida daqueles oficiais a Bolama, regressaram a Bissau com um pequeno contingente, e daqui partiram de novo para Susana, armados e municiados. Os Felupes receberam-nos hostilmente, travando-se um combate em que morreram dois soldados, ficando vários feridos. O facto foi comunicado ao governador, seguindo imediatamente para o local, com reforços, o Capitão Sinel de Cordes, Comandante da Polícia. Chegado este a Susana, e posto ocorrente do que se tinha passado, entendeu, e muitíssimo bem, que era preciso castigar energicamente os revoltosos, tanto mais que já no ano passado, na mesma região, tinham cortado a cabeça a cinco soldados”.

O relatório do chefe da delegação em Bissau do BNU é bastante minucioso, convocam-se Fulas para coadjuvarem as tropas regulares, dirigem-se a Jufunco, a povoação revoltada, aguardam-se ainda centenas de Fulas vindos de Bambadinca. Os rumores eram os mais desencontrados: que aos aviadores desaparecidos tinham sido cortadas as cabeças, por exemplo. Iniciada a batida, os revoltosos refugiavam-se nos pântanos, o governador seguiu para o campo de operações, voltou dias depois a Bissau, o chefe da delegação falou com ele, ficou informado que o gentio se tinha posto em fuga e que o governador tinha dado por fim a operação, deixando apenas na região uma pequena força para policiamento. 

O chefe da delegação mostra-se contrariado coma decisão do governador, a região dos Felupes era uma verdadeira dor de cabeça. “A ação das nossas tropas está longe, muito longe mesmo, segundo as informações que temos, de se poder considerar decisiva. Ainda nos últimos dias foi assaltada pelos rebeldes uma camioneta que conduzia auxiliares, escapando, por milagre, o condutor do carro; aos outros foi a todos cortada a cabeça e membros e os troncos decapitados deixados na estrada alinhados, numa demonstração de ameaça e requintada selvajaria. Não desejamos comentar a medida governamental, porque isso não está na nossa índole, nem temos fundamento bastante para considerar desastrosa a ordem de retirada. A saída das nossas tropas da região revoltada sem terem infligido um exemplar castigo aos revoltosos é desprestigiante e será mal interpretada pelos vizinhos franceses, que estabeleceram postos militares ao longo da nossa fronteira.

Sabe-se que em Ziguinchor um francês que acompanhou as duas senhoras a que atrás fizemos menção ao referir-se a nossa ação nas pesquisas do avião desaparecido nos alcunhou de cobardes. Talvez tenha sido por isso que o Capitão Sinel de Cordes, calmo e sereno, mas decidido, tivesse a intenção de acabar de vez com a lenda dos Felupes, lenda que tem custado a vida a soldados e auxiliares indígenas”.

Mais tarde, o gerente de Bissau volta a escrever uma carta para Lisboa, informando que se encontra na região dos Felupes apenas um oficial, o Tenente Dores Santos à frente de um destacamento, não se tinham registado até então novos atos de insubordinação ativa. “Consta que os chefes revoltosos – Alfredo e Coelho – das tabancas de Jufunco e Egine, respetivamente, se refugiaram com parte da sua gente no território francês, sendo ambos presos pelas autoridades respetivas. Iniciaram-se diligências oficiosas junto daquelas autoridades para que, às nossas, esses chefes fossem entregues”.

E mais não sabemos, jamais se voltará a encontrar documentação sobre o desaparecimento do avião, fica-se com um quadro claro de que no início da década de 1930 a região Felupe dava provas evidentes de insubmissão, tudo aponta para declarações forjadas de que o avião francês viera aterrar em território da Guiné portuguesa, no decurso do envio de tropas terá havido interrogatórios cruéis e altamente intimidantes, no somatório de todas estas rebeliões os Felupes entenderam que não possuíam capacidade para ripostar contra a autoridade colonial, terá sido essa a razão do chamado ensimesmamento dos Felupes, para lhes ser reconhecida a sua autonomia nem com o PAIGC pactuaram, mantiveram-se à margem, salvo exceções no período da luta armada. Assim se põe termo a este episódio rocambolesco de um avião desaparecido em território insubmisso.

Le Portugal et l’Allemagne hitlérienne: la question des bases navales secrètes dans l’Atlantique sud (1933-1945), 
URL : https://journals.openedition.org/ashp/1874 
Méthodes en histoire du monde portugais Conférences de l’année 2014-2015 
Dejanirah Silva-Couto 

Après avoir consacré les années 2009-2012 à l’étude des relations entre le Portugal métropolitain et l’Allemagne hitlérienne pendant la seconde guerre mondiale, grâce, entre autres, à la documentation inédite de l’Arquivo Histórico do Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) [ministère des Affaires étrangères] du Portugal, nous avons étudié ensuite ces relations dans le cadre de l’empire portugais. Un nouveau cycle de conférences, consacré aux activités allemandes en Afrique australe, en Angola, au Mozambique et à Madagascar fut lancé en 2013-2014. Très riche et pratiquement inexploitée, la documentation du MAE réservait plusieurs surprises. C’est ainsi que nous nous sommes intéressés à un dossier (Arquivo 27 Piso, Armo 49, maço 17, desclassificado 14.11.1989), qui nous permettait d’inclure dans la conférence une troisième possession portugaise africaine, la Guinée-Bissau. D’autre part, si l’historio- graphie portant sur l’Angola et le Mozambique dans les années 1940-1945 demeure très limitée, on peut dire que les travaux sur la Guinée-Bissau à cette époque sont quasiment inexistants. En dehors des problématiques rattachées à la question de l’esclavage (xvie-xviiie siècles), même le xixe siècle fait l’objet de peu de publications 1

1. Outre René Pélissier, se reporter à Fernando Amaro Monteiro et Teresa Vázquez Rocha, A Guiné do século XVII ao século XIX : o testemunho dos manuscritos, Prefácio, Lisbonne, 2004.

En effet, ce minuscule territoire de 36 120 km2 ouvert sur l’Atlantique, mais enclavé entre la Casamance et la Guinée n’attira pas l’attention en dépit de sa position stratégique. Ses frontières en faveur du Portugal ne furent fixées qu’en 1886 ; l’intérieur des terres demeura pratiquement inconnu, ce qui favorisa la France en 1905. Cette dernière reçut la région de Kadé (Fulamori) que l’on pensait située à 16° de longitude ouest quand en réalité elle se trouvait à l’est. Les peuples africains de la colonie se rebellèrent tour à tour entre 1881 et 1906. Empreinte d’une grande brutalité, la campagne coloniale dite « de pacification » de Teixeira Pinto (1913-1915) ne fit qu’accroître les tensions sociales et politiques. Motivés par les levées d’impôts (dont l’imposto de palhota) les derniers soulèvements datent de 1936, menés par les Bijagós insulaires (René Pélissier, Naissance de la Guinée. Portugais et Africains en Sénégambie [1841-1936], Montamets : éditions Pélissier, 1996). 
Ce rappel historique a permis de mieux comprendre le climat qui régnait en Guinée-Bissau pendant la Seconde Guerre mondiale, et la façon dont les efforts de l’administration coloniale pour stabiliser sa domination ont facilité l’ infiltration allemande. Comme mentionné antérieurement, la Guinée-Bissau dispose d’une position stratégique privilégiée, dans la mesure où elle constitue un excellent poste d’observation de l’Atlantique sud, à partir duquel on peut également développer les liaisons maritimes et commerciales avec l’ensemble de l’Amérique latine et le Brésil lusophone. L’intérêt de cet emplacement n’échappa pas au régime hitlérien, pour qui la surveillance de l’Atlantique sud était importante en 1941-1942 (jusqu’à l’opération Torch de 1942). D’un point de vue régional, l’existence d’une frontière de la Guinée-Bissau avec la Casamance accorda une importance supplémentaire à la colonie portugaise. 

Réunissant plusieurs télégrammes, coupures de presse, rapports secrets et correspondances personnelles, le dossier du MNE que nous avons étudié a pourtant révélé que les Allemands s’étaient intéressés à la Guinée-Bissau bien avant le déclenchement du conflit. En réalité, l’épisode de la chute de l’avion français, ou le cas de la disparition des aviateurs Gaté (adjudant-chef de l’aviation et de l’aéronautique de l’AOF) et Brée, permet de signaler les années 1934-1935 comme le début de l’intérêt des Allemands pour la colonie portugaise délaissée, où la capitale, Bissau, comptait moins de 20 000 habitants à l’époque. 

En 1935, année marquée par l’instabilité sociale dans la colonie, le gouvernement portugais, par le décret législatif 872, entreprit de réglementer la présence des étrangers au sein des sociétés commerciales exerçant leur activité sur le territoire (La presse coloniale, 9.I.1935). Un incident fâcheux était survenu le 30 juin 1933. Piloté par Gaté et Brée, l’ avion français 821 disparaissait dans l’espace aérien de la Guinée-Bissau pendant un ouragan qui avait fustigé la presque île de Dakar et l’archipel des Bijagós, territoire de la colonie. 

Après des recherches sur la presqu’île de Dakar (le crash fut d’abord placé au nord de Kambarène) 1, les deux sergents aviateurs furent donnés pour disparus, mais les autorités françaises du Sénégal entamèrent rapidement des démarches pour localiser l’épave et retrouver la trace des aviateurs disparus. En novembre 1934, un aviateur français, le capitaine Georges Dendoid, sollicita un sauf-conduit pour se rendre dans la région présumée de la disparition, en traversant la frontière à Zinguichor et S. Domingos (télégramme du 13.XII.1934). Au vrai, ces initiatives furent accélérées par la démarche de la veuve de Gaté, qui se rendit en Guinée après l’accident, accompagnée par un nommé Figuier et l’adjudant Chanbon. Madame Gaté essaya de visiter la plage de Djuping, dans l’archipel des Bijagós, où l’appareil se serait écrasé, mais l’accès lui fut interdit par les autorités portugaises. Elle s’éleva contre la version officielle lusitanienne, selon laquelle l’avion ne s’était pas écrasé en Guinée-Bissau, et déclara que le site était préparé pour recevoir une base de sous-marins allemands ; ayant surpris des installations clandestines, les deux aviateurs auraient été séquestrés. 

1. Nous avons examiné la déclaration du capitaine Arrighi, commandant du bataillon de Tiaroye, consulat portugais de Dakar, le 8 janvier 1935. 

La société des Nations en fut informée (télégramme du 20 décembre 1934). Ses déclarations éveillèrent l’intérêt de la presse métropolitaine et coloniale française (articles de l’Action française du 22.XII.1934, du Paris-Dakar, du 25.I.1935, de La presse, du 26-27.XII.1934) ainsi que de l’italienne (article de Il Telegrafo de Livorno, du 27.XII.1934). Le gouvernement portugais fut questionné à propos d’une « base étrangère » dans l’archipel des Bijagós. Au grand dam des autorités coloniales, la région que celles-ci voudraient soustraire aux yeux des étrangers fut d’abord survolée en novembre 1933 par Roussel, un aviateur français qui s’empressa de retourner au Sénégal. Une seconde enquête in situ fut confié à un « journaliste » français, Didier Poulain, envoyé en Guinée-Bissau à l’automne 1934. Bravant l’interdit des autorités coloniales (rapports confidentiels adressés au directeur général des affaires politiques du MNE à Lisbonne), Poulain se rendit surtout dans la région habitée par les Felupes, à la frontière de la Casamance. Le voyage éveilla immédiatement les soupçons de l’administration portugaise. En effet, étudiée également par l’auditoire de la conférence, la copie du rapport secret de quinze pages dactylographiées, adressé le 8 octobre 1934 au gouverneur général de la Guinée-Bissau par Jorge Frederico Torres Velez Caroço, directeur des services et affaires indigènes de Bolama (rapport signé par le fonctionnaire Joaquim Carmo, daté du 10 décembre 1934), dévoila le véritable profil de Poulain : aviateur pendant la Première Guerre mondiale, il avait effectué plusieurs missions d’espionnage au service de la France. Il avait renseigné sur le développement et le degré de préparation des forces aériennes allemandes dans l’éventualité d’un conflit. En outre, on lui avait aussi confié des missions en Indochine. 

La seconde partie de la conférence mit en valeur ce long rapport, traduit par nos soins à l’attention des auditeurs moins familiarisés avec le langage administratif et les normes du discours officiel du régime en contexte colonial. Sous prétexte d’élucider l’affaire Gaté, Georges Poulain s’intéressa en réalité aux populations indigènes de la colonie, qu’il sembla connaître fort bien. Accompagné par Joaquim Carmo, il visita Ussuí, et y rencontra Alfredo, un ex-chef indigène fraîchement converti au christianisme et surveillé en raison des embuscades qu’il avait déjà dressées contre les Portugais. Le groupe visita plusieurs villages (tabancas) et Poulain photographia les habitants et les lieux. Il prit également des notes sur la position des tabancas et la géographie des fleuves et rivières. Il annonça aussi la visite d’un journaliste du Matin, un autre important périodique français, motivée, selon lui, par un reportage sur les religions locales. L’attitude des autorités coloniales, qui avaient d’abord crédité la thèse du crash en territoire de la colonie pour se défausser ensuite, encouragea Poulain, d’autant plus qu’un morceau de toile appartenant à l’avion avait été retrouvé entre les mains des africains, soupçonnés entre-temps d’avoir été incités à la contestation par Madame Gaté. 

Le rapport a permis de confirmer l’impression générale, celle du processus de dégradation des relations entre l’AOF et l’administration coloniale portugaise, la première étant accusée d’offrir des sanctuaires aux guinéens rebelles s’opposant à la seconde en refusant de les extrader (p. 7 du rapport). L’épisode Gaté ne vint qu’envenimer davantage ces relations. Sous foi de notes d’informateurs des portugais résidant à Zinguichor, le groupe français constituait la « garde avancée » d’une grande mission qui viendrait s’occuper de l’affaire Gaté. Il se dessine indiscutablement dans le rapport la crainte d’une invasion de la petite colonie portugaise relayée par la contestation des Felupe frontaliers de la Casamance (p. 11 du rapport). De plus, les autorités françaises encourageaient les Felupe à rejoindre le Sénégal, en détriment de la région frontière entre le fleuve Farim et S. Domingos. Du point de vue militaire, l’administration clair- semée à la frontière nord ne permettait pas d’envisager une quelconque défense, car une circonscription administrative comme Susana ne comptait que sur quinze soldats. Les réductions financières imposées par la métropole n’autorisaient le recrutement de nouvelles troupes. 

L’« affaire Gaté » continua d’être exploitée par la presse française et italienne pendant l’année 1935 (La dépêche coloniale du 7-8.I.1935, La nouvelle dépêche du 9.I.1935, Paris-Dakar du 16.I.1935, l’Azione Coloniale de Rome en janvier 1935). Comme observé à l’examen de la lettre adressée de Paris le 9 janvier 1935 au ministre des Affaires étrangères de Salazar, José Caeiro da Matta, le gouvernement portugais craignait encore le scandale, une enquête internationale et surtout une remontée de l’affaire au Quai d’Orsay susceptible d’endommager les relations luso-françaises. La perspective d’une base de sous-marins allemands aux portes de Dakar ne pouvait qu’inciter les autorités de l’AOF à mener une opération militaire frontalière. Le public portugais ne fut pas informé de l’affaire, la censure ayant laissé passer uniquement un entrefilet dans la presse portugaise en novembre 1934. L’affaire fut classée en tant que provocation et «opération de concurrence commerciale », mais le malaise persista, d’autant plus que Madame Gaté avait saisi le garde des Sceaux d’une plainte contre X pour séquestration. En janvier 1935, Velez Caroço et le capitaine Georges Dendoin retournaient sur le terrain pour interroger les Felupe et essayer d’obtenir de nouvelles informations, apparemment sans résultat tangible. 

Afin de dissiper les tensions, le secrétaire général du gouvernement de l’AOF, Pierre Boisson, avait déjà offert un dîner le 6 janvier 1935, à Dakar, aux officiers portugais et français impliqués dans les recherches ainsi qu’au le consul du Portugal. 

Comme la veuve du sergent aviateur Gaté l’avait déclaré en 1933, un groupe de citoyens allemands résidaient en effet dans les îles Bijagós et sur celle de Bubaque en particulier, où ils exploitaient une usine d’huile de palme. Cependant, le 8 janvier 1935, R. M. Bartenstein, le consul du Portugal à Dresde reçut une lettre insolite. Anthropologue et ethnologue, le professeur docteur Bernhard Struck (de l’université de Dresde ?) contactait les autorités portugaises pour leur offrir ses services afin d’éclaircir « les événements dans la Guinée portugaise » (lettre visée par la légation portugaise à Berlin, le 9.I.1935). Versée au dossier, sa lettre en allemand fut traduite et commentée dans l’une des séances du séminaire. Struck aurait été inspiré par les articles sur le crash de l’avion parus dans la presse allemande régionale (à l’exemple du no 360 du Dresdener Anzeiger en date du 30.XII.1934 sous le titre Das Geheimnis der Bissagos-Inseln). Il déclare également dans sa lettre avoir accompli des missions scientifiques en Guinée-Bissau en 1930 et 1931, dans la région de Susana et sur l’île de Bubaque. Struck connaissait Bartenstein, qui le recommanda chaleureusement au gouvernement portugais : il semblait détenir la clé de la mystérieuse disparition de l’avion, et paraissait en mesure d’innocenter les autorités portugaises à propos de l’existence de la base sous-marine allemande. Tout porte à croire que Struck était un agent allemand, qui essaya de doubler les officiers français venant de l’AOF. Nous avons achevé l’examen de cette partie du dossier en rappelant que si la base allemande des Bijagós n’existât pas en tant que telle, ce qui attend encore confirmation, on peut admettre que la colonie allemande de la Guinée-Bissau, à l’exemple de ce qui se passa en Angola et au Mozambique, prépara le terrain à l’implantation des agents hitlériens qui, pendant la guerre, menèrent des activités d’espionnage dans les colonies portugaises africaines. Au delà de la rhétorique politique du régime de Salazar, le décret 872 de 1935, mentionné en début de notre rapport, prétendait répondre à la situation qui se profilait. Il n’en reste pas moins que dans cet imbroglio politico-diplomatique, les Felupe furent instrumentalisés et sont devenus les grands perdants. 

Na Revista Portugal Colonial é publicado um artigo intitulado « Um romance de Aventuras na Guiné ou o negocio frustado dum grande jornal parisiense (Ano 4, n.º 51, Maio de 1935, paginas 6 e 27)

O «Essor Colonial et Maritime» em artigo de André L'Herriot, a quem as cousas portuguesas merecem sempre especial simpatia refere-se à história fantástica do desaparecimento do aparelho francês pilotado pelo aviador Gaté na Guiné portuguesa.

Em volta do assunto fez-se um folhetim à maneira antiga - idiota na concepção e suspeito nos objectivos. A história não podia durar, evidentemente, e o caso começa a enterrar-se no ridículo que trouxe do berço.

Diz André L’Herriot:

«Os nossos leitores lembram-se naturalmente dos factos relatados pela imprensa quotidiana. Nunca quizemos fazer-mos éco dêsses artigos que nos pareciam bastante fantasistas. Dizia-se que os aviadores franceses tinham sido vistos a internar-se por cima do território da Guiné portuguesa onde teriam caído, sido prêsos e devorados pelos indígenas Felupes — ou, segundo outra tese, presos e sequestrados pelos agentes duma sociedade alemã estabelecida em território português a qual se ocupava de espionagem, creação de bases submarinas, etc.

«Estes artigos tinham nitidamente um carácter anti-português. Eram insultantes; as acusações eram precisas, detalhadas, porque se devia acreditar forçosamente nas asserções dum correspondente do grande quotidiano em que estes «estudos» apareciam assinados.

«Os governos coloniais foram postos alerta e foi creada uma comissão mixta, franco-portuguesa, encarregada de proceder a um rigoroso inquérito local.

«Os resultados das investigações não deram nada quanto às circunstâncias da morte dos aviadores franceses, mas revelaram, pelo contrário, alguns actos muito exquisitos da parte do jornalista francês e dos seus comparsas.

As asserções sôbre as quais se baseavam para acreditar no vôo sôbre território português, emanam dum cidadão francês negro. 

O inquérito provou a falsidade e as mentiras dêste sômbrio personagem - sômbrio em tô-das as acepções da palavra.

« A  viuva do aviador Gatté percorreu a Colónia, acompanhada por um sargento, que distribuiu aos indígenas bocados de tela de avião que mais tarde deviam ser apresentados como provenientes dos Felupes de território português; esta distribuição de «provas» foi feita por intermédio do cidadão negro que, como Madame Gatté, estava em relações com o jornalista metropolitano, descobridor dos mistérios coloniais.

«A sociedade »alemã» era portuguesa, e a Comissão pôde certificar-se de que a sua actividade nada tinha de romanesco... a menos que haja romance na colheita e tratamento do coconote.

«Além dos seus emolumentos de jornalista, o correspondente do quotidiano parisiense recebeu de Madame Gatté, a importância de 25.000 francos. Forneceu ao seu jornal, como fotografias oriundas da Guiné portuguesa, algumas vistas da A. O. F. que lhe tinham sido dadas, como recordação, por um funcionário francês, que apareceu a protestar contra o uso que delas se fazia.

«Foram incomodados dois governadores gerais e tiveram, diversos oficiais, que proceder a um longo e custoso inquérito, à custa do Estado, por causa da maquinação sórdida em que intervieram alguns cavalheiros de indústria de côres variadas.

«Esperamos vir a saber que sanções serão tomadas — e não esperamos decerto saber, por maior que seja o nosso desejo o que terá pensado o director de certo poderoso quotidiano parisiense, sôbre as vantagens e inconvenientes de expedir às colónias repórters sensacionais.
«Talvez se tenha lembrado que existe nas Colónias e na Metrópole uma Imprensa Colonial e que estes seus confrades, se não são sensacionais são probos e estão ao corrente dos assuntos que tratam.»

E assim terminou — por agora — o movimentado folhetim que um grande jornal de Paris, pouco escrupuloso nos seus processos, tinha imaginado para volúptia dos seus leitores anciosos por emoções fortes.

E claro que do folhetim havia de resultar a indeminizaçãozinha pedida ao govêrno português a favor de Madame Gatté, manobra muito francesa — mas que desta vez falhou com a perda dos capitais comprometidos no negócio.

Na revista Police Magazine No 260 e 261 de Novembro 1935 - le Mystère de l'Atlantique Sud

Voici un relevé d'articles parus dans la presse sur l'affaire Gaté: