Arquivo do blogue

terça-feira, 2 de janeiro de 2024

Arquipélago dos Bijagós


O arquipélago dos Bijagós

De um bem escrito relatório do sr. Joaquim da Graça Correia e Lança, governador interino da Guiné portuguesa, vamos colher algumas informações interessantes relativas ao arquipélago dos Bijagós. 

A ilha das Galinhas tem 600 habitantes, e 3 povoações. O gentio é pacifico. Os habitantes vão em canoas a Bolama, Bissau e ás feitorias do Rio Grande comprar tabaco, aguardente, armas, pólvora e tecidos, em troca de laranjas, galinhas, arroz, azeite de palma e chabe (fruto da palmeira). A permutação faz-se em geral do seguinte modo. Por 1 tolha de tabaco trocam 4 laranjas, por 1 barril de pólvora de 4 libras 6 galinhas, por fazenda no valor de 360 reis 1 galão de azeite, por fazenda no valor de 960 reis 1 bushell de arroz. E uma das ilhas que mais se presta a uma larga exploração agrícola. Possui muito boa agua, extensas pastagens, gado em abundância. 

Nos portos de três povoações da ilha podem fundear embarcações pequenas, mas a leste e ao sul ha fundo de 7 braças. Ha muita arvore de borracha. Toda a ilha é coberta de palmeiras e dá-se nela excelentemente o tabaco e o algodoeiro. Acerca d'esta ilha lê-se no relatório a que aludimos o seguinte:

Tem falta de braços e de quem dirija os trabalhadores. As três povoações que ha na ilha chamam-se Ametithe, que tem quarenta casas todas construídas de barro, cobertas de colmo feitio cilindro-cônico, á semelhança dos nossos velhos moinhos da Europa, mas muito mais baixas, tem sessenta habitantes; Cassadia, cento e cinqüenta casas e quatrocentos e cinqüenta habitantes; Ancoronhó, trinta casas, cem habitantes. Esta população divide-se em duzentos e cinqüenta homens, trezentas mulheres e o resto crianças de ambos os sexos. E gente pacifica, e que não seria difícil habituar ao trabalho regular.

Procedem dos antigos escravos de D. Aurelia Correia, que em 1833 para ali fora habitar com seu marido Caetano José Nozoliny, levando de Bissau, do ilhéu do Rei, todos os escravos do sua casa, que ascendiam a uns quatrocentos. Como era uma das principais casas de Bissau fácil lhe foi fazer, uma das melhores instalações na ilha das Galinhas. Ainda hoje na povoação de Ametithe se vêem os alicerces de pedra e cal da casa de D. Aurelia, e numa grande horta junto as ruinas, logo no porto de desembarque, ainda se podem contar, d'esse tempo, vinte e oito pés de laranjeiras, e vinte e três de coqueiros. D. Aurelia fixou residência mais tarde na ponta oeste da ilha de Bolama, para onde levou muitos dos seus escravos da ilha das Galinhas, continuando a lavoura em ambas as ilhas.

Era isso pelo ano de 1835, época em que pela Europa retumbava o clamor humanitário contra o nefando trafico. Os grandes senhores que na Africa realizavam colossais fortunas com a escravatura viam-se forcados a procurar as baías mais occultas e de mais difícil acesso para ai carregarem de escravos os seus navios.

D. Aurelia Correia, para no falarmos senão neste vulto extraordinário de mulher, que ficará celebre na historia da Guiné portuguesa pelo seu valor e coragem, e pela tempera genuinamente portuguesa do seu caracter, seguiu a sorte dos senhores d'esta época, A população, portanto, da ilha das Galinhas procede, como dissemos, dos escravos para ali levados por D. Aurelia Correia em 1833, elevando-se hoje a umas seiscentas pessoas, como calculei. Ufanam-se em se dizerem cristãos, e talvez na sua maioria sejam batizados, porque em março de 1808 o governador do distrito da Guiné, Manuel Fortunato Meira, foi visitar aquela ilha e levou consigo o cônego Joaquim Vicente Moniz, vigário geral, que batizou quasi todo o gentio.

A ilha das Galinhas reune condições que a tornam de fácil ocupação, oferecendo garantias de salubridade e de uma vasta e riquíssima exploração agrícola. A sua área não for ainda calculada rigorosamente. mas a avaliá-la pelo mapa da província da Guiné, publicado este ano (1889), e que devemos presumir rigoroso a respeito do contorno de uma ilha tão conhecida, deve ter no seu maior cumprimento 14 milhas e na sua maior largura 6. A ilha tem as seguintes madeiras de construção e marcenaria: calabaceira, mampatache, salanca, mabode, poilão, caboupa macho, goiaba brava e pão carvão em pequena quantidade. Tem muita abundância de mel, que os habitantes aproveitam abandonando a cera. 

A ilha de Canhabaque ou Roxa tem 7.900 habitantes e 10 povoações. Tem densas matas da palmeira que dá o coconote, abundância da arvore da borracha, magnificas madeiras. Os habitantes fabricam azeite e vinho de palma. que vão vender a Bolama e Bissau a troco de pólvora, aguardente, armas e outros objectos. Possui a ilha grande abundância de laranjas com que abastece o mercado de Bolama e Bissau. Tem muita cera. Possui a ilha grande abundância de laranjas con que abastece o mercado de Bolama e Bissau. Tem muita cera. Não tem pântanos; é uma das mais salubres pela sua exposição. Possui boa agua potável e extensas pastagens. Pertencem ao domínio do rei de Canhabaque os oito ilhéus: João Vieira, Anjemen, Natonte, Amajó, Anchorpená, Polão, Amajó (ilheu dos Porcos), Amen e Amen-amen. Nos quatro primeiros ilhéus vão os habitantes de Canhabaque residir cinco meses no ano para cultivarem o arroz; no ilhéu Amajó só o rei pode ter porcos e cabras.

A ilha Agô Grande ou Bobak tem 7.000 habitantes e 21 povoações. O principal trabalho do gentio é fabricar azeite de palma e vender coconote. E salubre e tem boa agua.

Pertencem lhe os ilhéus Ruban ou Uno, que têm alguma importância commercial, Angurman e Anabane.

A ilha Sogá tem 4.000 habitantes e 3 povoações. Os habitantes são muito indolentes; sendo por isso frequentes as fomes na época das chuvas. Antes de começarem as sementeiras procedem a demoradas cerimônias, consultam os defuntos por intervenção dos seus mágicos, e gastam assim o tempo em danças e festas. Tem a ilha boas nascentes; é salubre e não ha nela pântanos. A esta ilha pertencem os ilhéus, Anadodo, Angnoman e Entoman. Não tem importância. Diz o relatório que este ultimo ilhéu é destinado aos que se querem suicidar.

A ilha Formosa tem 6.000 habitantes e 13 povoações.Não tem pântanos Tem boa agua potável. E' muito salubre e possui muitos gados. Pertencem-lhe os ilhéus Marambá e Anrumá e Manzaça.

A Ponta Maio ou a ilha Botai tem 700 habitantes e 3 povoações. Fica muito próxima da ilha Formosa. Tem boa agua, e é muito salubre.

A ilha Ancorete, ou Corbelha tem 1.080 habitantes e 14 povoações. Os habitantes são muito trabalhadores, e é a gente mais pacifica do arquipélago. Tem a ilha grandes matas de cibe. E a mais salubre de todas. Não possuem canoas e as suas superstições não lhes consentem navegar. Vão ali os bijagós de Orango e de Un cortar pilões para canoas, mediante o pagamento de uma vaca. Consomem muito tabaco, mas a aguardente, o que é singular entre bijagós, parece que so é aplicada como medicamento.

A ilha Carás ou Carache tem 2.000 habitantes e 7 povoações. São muito indolentes os habitantes e apenas uma ou outra vez no ano vão a Bissau. A ilha é salubre. Tem três ilhéus próximos, Echedé, Etubaçapa e Ambito.

A ilha Agô (pequena), tem 250 habitantes e 2 povoações. Levam os habitantes ao mercado de Bissau azeite de palma com abundância, boas esteiras e couros. São trabalhadores e muito piratas. A ilha é insalubre.

A ilha Uracan tem 4.000 habitantes e 7 povoações. Os habitantes são muito preguiçosos, ocupam-se unicamente em extrair vinho e azeite de palma. A ilha é pantanosa. Pertence-lhe o ilhéu Egobá que é habitado, e cultivado, e os ilhéus Edobá e Cuna.

A ilha Un ou Oula tem 9.200 habitantes e 37 povoações. E pantanosa.

A ilha de Orango tem 8.260 habitantes e 29 povoações O rei de Orango é absoluto e déspota. Ninguém na ilha pode negociar, nem possuir bens; so ele possui canoas que manda a Bissau. E com elle que os negociantes se entendem para os negócios comerciais.  Exporta a ilha couros, gados, esteiras e palma. Pertencem-lhe os  ilhéus Onhocom e Uithi habitados, Edoba e Anjam, desertos. O ilhéu Onho é destinado ao degredo dos que cometem delitos em Orango.

Ha no arquipélago vários outros ilhéus sem importância. O numero total das ilhotas e ilhéus é de 53. Este arquipélago pode convenientemente concorrer em grande escala para a prosperidade e largo desenvolvimento da Guiné.



Sem comentários:

Enviar um comentário

Veuillez laisser votre commentaire et votre mail. Merci