· Artur Augusto da Silva que morreu em Bissau em 1897
· Cândida Augusta da Silva nasceu em 1855 na Ilha Brava, casou-se em 1872 com José Sebastião de Senna de quem teve dois filhos
· Olympia Augusta da Silva, nasceu na Ilha Brava em 1860 e casou-se em 1880 com António José Godinho de quem teve 6 filhos
Os pais de Carlota seriam Francisco José de Medeiros e Faustina Roza de Medeiros.
Certidão de nascimento de César:
Desta povoação e reino tomou posse, para a coroa, em 1869, o governador de Cacheu e dependências, João Carlos Cordeiro, como se vê do seguinte documento :
Certidão de nascimento de António Gomes Barbosa, irmão de José Medina:
No registo seguinte trata-se do baptismo de José filho de António Gomes Barbosa e Dona Maria Macedo Barbosa, sendo padrinho João Gomes Barbosa júnior e a coroa de nossa senhora do Livramento sendo portadora da mesma Dona Constância Augusta Barbosa.
César Gomes Barbosa, que nasceu na Ilha do Fogo, irmão de João Gomes Barbosa junior, nasceu em 1829, casou-se com Ana Barbosa Teixeira. Viveram em Bissau na Guiné . No dia 9 de Julho 1871 Ana, deu à luz João Gomes Barbosa no Brigue ligeiro quando de uma viagem para Cabo Verde.
Este sobrinho de César foi médico. Casou-se 2 vezes; a 1ª com Guilhermina Caldeira, de quem ficou viúvo; a 2ª com Ester Caldeira Lopes, natural de Portugal, filha de Júlio Ferreira Lopes e de Cristina Silveira Caldeira. Médico diplomado pela Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa, foi nomeado médico de 2ª classe para o Quadro de Saúde de Cabo Verde pelo Decreto de 30/Jul/884, e pelo Dec. de 10/Abr/891, foi promovido e nomeado chefe do Serviço de Saúde da Guiné e que em 1896 partiu para a Índia, como inspector dos serviços de saúde e director da Escola Medico Cirúrgica de Goa. Foi governador interino da Guiné (de 24 Abril 1893 a 23 Outubro de 1893) e também foi Vice-rei da Índia, nome dado aos Governadores-gerais do Estado Português no tempo da monarquia. Foi ainda Director dos Hospitais Civis e Militar de Pangim. Reformou-se com a graduação de tenente-coronel-médico em 4 de Dezembro de 1902. Ao longo da sua carreira recebeu várias condecorações: Comendador da Ordem Militar de Cristo; Oficial da Ordem Militar de S. Bento de Avis; Oficial da Ordem Militar de Cristo; Oficial da Ordem da Torre e Espada; medalha de prata de comportamento exemplar; medalha de oiro de serviços distintos no Ultramar e a medalha de Ouro da Rainha D. Amélia.
Um outro irmão de João Gomes Barbosa júnior foi Pedro Gomes Barbosa que aqui declara o nascimento de um seu filho César:
No jornal francês “Les Débats Politique et Littéraires “ de 4 de Fevereiro de 1848:
aparece a noticia seguinte:
O capitão do navio Le Basque de regresso a França escreve no Moniteur Universal de Julho 1847 a historia do naufrágio:
José:
E um filho José (nascido em 1828) que parece não ter sido concebido por Joana São João
Casamento com Manuel António da Sylva Brandão:
Casamento com José Roberto da Sylva
Assento de Casamento de José Roberto da Sylva filho de João António Freire e Genoveva Rita da Purificação, com Joanna de São João, aos 26 de Março de 1827:
Certidão de óbito de Joanna de São João da Fonseca a 29 de Maio de 1883 com 80 anos de idade:
Francisco casou duas vezes. A primeira com Maria Egipcíaca de quem teve nove filhos. Do segundo matrimónio com Margarida Júlia Brazao, na Igreja de São Pedro do Funchal, em 27 de Março de 1815, nasceram cinco filhos . Poeta com larga obra, metido em problemas de ordem politica foi condenado em 1823 a 8 anos de degredo em Angola. Morreu na Praia um ano depois.
O António acima mencionado , irmão de João Gomes Barbosa júnior, pelos vistos tinha uma escrava Clemência
Outro irmão foi Diniz Gomes Barbosa (ver fotografia), médico, nascido em S. Filipe e falecido em 26 de Abril de 1906, no Fogo. Médico diplomado pela Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa, foi nomeado médico de segunda classe para o Quadro de Saúde de Cabo Verde e por Portaria Régia de 30/Jan/1883, foi nomeado Chefe do Serviço de Saúde de Cabo Verde. Reformou-se com a graduação de coronel-médico em 7 de Julho de 1893. Era Comendador da Ordem Militar de S. Bento de Avis.
Ter escravos nessa altura na ilha do Fogo seria relativamente comum como mostra este registo de Claudina e Esperança ambas escravas de Roberto José Nozolini. contemporâneo de João Gomes Barbosa.
FRANCISCO DE PAULA DE MEDINA EVASCONCELOS -Nasceu no Funchal (S6) a 28.11.1768 e faleceu na Praia (Graça), Cabo Verde, a 16.7.1824, sem testamento (sepultado no Cemitério da Praia).
Estudou na Universidade de Coimbra, onde foi preso quando tinha 22 anos, interrompendo então os estudos. Regressou à Madeira onde, em 1797, pediu o lugar de ajudante de Milícias em S. Vicente, vago pela saída para Cabo Verde de seu irmão Manuel Alexandre, mas não obteve o cargo por já estar preenchido.
Em 1822 concorreu e ganhou o lugar de professor da Aula de Gramatica ¨portuguesa e foi tabelião de notas do Funchal pelo mesmo desde 1823. Partidário da constituição 26 182 envolveu-se nas manifestações do ano seguinte que culminaram na célebre devassa que a 26.10.1823 condenou 24 pessoas a diversas penas, sendo ele condenado a degredo de 8 anos para Angola, com consequente perda dos empregos. Embarcou com a mulher e filhos em Janeiro de 1824 com destino a Luanda, mas à última hora, por motivos que se desconhecem, foi alterado o destino para Cabo Verde, onde acabou por se radicar.
Publicou Noite triste a que deu assumpto a infausta e sentidissima morte da execelentissima senhora D. Carlota Margarida, filha do excellentissimo senhor Duque delafões, Lisboa, Ofic. de António Gomes, 1792, 12 p.; Poesias lyiricas de Medina, dedicadas à Senhora D. Catharina Michaela Sousa Cesar e Alencastro por seu author, Lisboa, Na Offic. de Simão Thaddeo Ferreira, 1797, 245 p.; Sextinas elegiacas ao sempre memorável estrago da cidade do Funchal da Ilha đa Madeira, na calamitosa alluvião do dia 9 de Outubro de 1803, Lisboa, Imp. Regia, 1805; Elegia à deplorável morte do grande e incomparavel Manoel Maria Barbosa du Bocage, Lisboa, Imp. Regia, 1806, 14 p.; Zargueida. Descobrimento da Ilha da Madeira: poema heroico, Lisboa, Off. de Simão Thaddeo Ferreira, 1806, 254 p.; Georgeida, poema dedicado ao senhor Robert Page, 1819; Noites tristes de Fileno na ausencia de Marilia, 1825.
« Medina e Vasconcelos, que se manifestou desde a mocidade sectário das ideas dos filósofos do século XVIII, foi também um acérrimo partidário da Constituição de 1821, sendo por isso envolvido nas redes da alçada que em 1823 veio à Madeira proceder a uma rigorosa e vexatória devassa acerca dos acontecimentos que se deram entre nós por ocasião da proclamação do primeiro governo representativo que vigorou no nosso país. Os seis magistrados que constituíam a alçada chegaram ao Funchal a 26 de Agosto de 1823 e proferiram a respectiva sentença a 24 de Outubro do mesmo ano. Nela se diz que Medina e Vasconcelos «esquecido dos deveres da honra e de fiel vassalo, e dos vínculos que mais estreitamente o ligavam como funcionário publico, tivera o desacordado arroio de proferir em publico gravíssimas injurias ofensivas do decoro, veneração e respeito devidos ao Trono e ás reais pessoas de suas majestades, e tão graves que se julgam indignas de se escreverem neste acordão ». Na mesma sentença se afirma que estava filiado na Maçonaria e tomava parte nos seus trabalhos, tendo notavelmente concorrido para a proclamação e estabelecimento do governo constitucional neste arquipélago. Foi condenado «em oito anos de degredo para o Estado de Angola com inabilidade para os ofícios de Justiça ou Fazenda, e em cinqüenta mil réis para o Fisco,.
Medina e Vasconcelos morreu na capital do arquipélago de Cabo Verde no ano de 1824, isto é, pouco depois de proferida a sentença que o desterrara para Angola, sendo-nos desconhecidos os motivos que determinaram a alteração da pena quanto ao lugar em que deveria ser cumprida. Este nosso patrício exercia no Funchal o lugar de tabelião de notas, quando foi processado pela alçada e desterrado para Cabo Verde.
Inocêncio, num pequeno juízo crítico que faz das poesias de Medina, diz o seguinte: «como poeta lírico pertenceu à escola francesa; os seus versos são em geral sonoros e bem fabricados, e de certo não lhe faltava naturalidade. Pretendeu embocar a tuba épica; mas vê-se que esta empresa era muito superior ao seu talento, e por isso nos dois ensaios que naquele gênero compôs, não conseguiu elevar-se jamais além da mediocridade. Ha contudo, em um e outro, episódios que não deslustram a sua musa e que se podem ler com gosto».
Das composições de Medina e Vasconcelos, foi a Zargueida a que lhe deu maior renome e ainda hoje é de todas a mais conhecida. E um poema épico em oitava rima, moldado nas formas clássicas da antiga epopeia. Divide-se em dez cantos e contém mais de cinco mil versos. Trata do descobrimento da Madeira por João Gonçalves Zargo, aproveitando o apelido do descobridor para título do poema. Contém uma série de interessantes episódios com algumas felizes divagações poéticas, entre as quais avulta a lenda de Machim. E somente no canto X, que se faz a descrição do descobrimento desta ilha. Precede o poema um soneto dedicado a Bocage, a que este insigne poeta respondeu com outro soneto, que é sem dúvida a mais bela composição que este volume encerra»
No dia 13 de maio de 1824, aniversario natalício de el-rei D. João VI, houve grandes festejos na villa da Praia. Ao romper da aurora salvaram todas as baterias e os navios no porto embandeiraram; ao meio dia apresentaram-se no palácio do governo para o cortejo, diante do retrato de el-rei, o bispo, as duas câmaras da cidade e villa, todas as autoridades civis e mili-tares, oficiais dos diversos regimentos, pessoas mais gradas da terra e cônsules. Durante o cortejo salvaram pela segunda vez as baterias. O governador deu um jantar, para o qual foram convidadas as autoridades civis e militares e muitas outras pessoas, e concluído elle houve uma parada militar e depois outras salvas, seguindo o cortejo para a matriz, onde o bispo entoou o hino Te-Deum Laudamus, cantando os cônegos do cabido, os frades de S. Francisco e o clero secular; findo este hino, o padre Antonio Alfredo de Santa Catharina Braga (condenado a degredo por D. João VI por ser liberal) recitou um discurso apropriado ao acto. Seguiram-se três descargas dadas pelos infantes. Á noite iluminaram-se as casas da villa e no palácio do governo foi servido um chá e houve baile; entoou-se o hino patriótico e recitaram-se algumas produções poéticas dedicadas a el-rei por Francisco de Paula Medina e Vasconcellos, além de alguns improvisos.
Este Medina e Vasconcellos, como já vimos, foi degredado para Cabo Verde por oito anos pelas suas idéias liberais e dirigiu um Memorial métrico a el-rei implorando-lhe o perdão; este não chegou a tempo porque em 16 de julho de 1824 faleceu na Praia, onde estava exercendo o cargo de official da secretaria geral do governo, por nomeação do governador Chapuzet, que muito o apreciava pelas suas excelentes qualidades e pela sua ilustração pouco vulgar.
Damos em seguida as composições inéditas dedicadas a D. João VI:
Ode Saphica-Alcaica
Recitada na noite do dia 13 de Maio de 1824
no Quartel General da Villa da Praia da Ilha de São Thiago de Cabo Verde
POR SEU AUTOR
FRANCISCO DE PAULA MEDINA E VASCONCELLOS
O Portuguezes, que divinos éxthasis
Minha alma enleião!.. Que transportes vividos
Neste momento me arrebatão férvidos
Ao cume do Hélicon.
A par de Apollo, e das louçaãs Piérides,
A fraca sombra de loureiros flóridos,
Eis manda o Nume que una vozes métricas
Aos sons da Cithara!…
Da numerosa família Medina, da ilha da Madeira, que habita em Cabo Verde, ha uma grande descendência de Manuel Alexandre de Medina e Vasconcellos e de seus irmãos Anastacio Florindo, Theodoro Justiniano, Sabina, Maria, Emiliana, e de Francisco de Paula Medina e Vasconcellos, illustre poeta.
Manuel Alexandre teve nomeação de ajudante da companhia do Terço auxiliar da villa de S. Vicente, distrito do Funchal, em 16 de novembro de 1790; por resolução régia de 24 de fevereiro de 1797 e por decreto de 14 de novembro de 1798 leve a mercê do cargo de sargento-mor commandante da ilha do Fogo, por três anos, tendo chegado à Praia em 16 de março de 1799, prestado juramento nas mãos do governador Marcellino Basto em 17 do mesmo mez e tomado posse na villa de S. Filipe da ilha do Fogo em 15 de abril d'esse ano.
Nesta ilha casou com D. Luzia Filippa de São Thiago e com ela teve quatro filhos: Joaquim Rufino, que morreu pelos anos de 1835 a 1836 em alferes; Antonio, Emygdio e Thereza deixaram filhos, que estabeleceram, de preferencia, a sua residência na ilha de S. Thiago.
Manuel Alexandre subiu os postos até coronel graduado adido ao estado maior do exército, e tendo sido reformado no posto de brigadeiro, pelo decreto de 20 de julho de 1822, nele morreu em 1826.
Exerceu os seguintes cargos de nomeação regia, além do acima dito : de ajudante de ordens do governador, com a mesma patente de sargento-mór (major), por decreto de 13 de maio de 1811; de commandante da villa da Praia, por decreto de 17 de maio de 1813; por nomeação dos governadores exerceu importantes comissões. Fôra um militar digno e honrado e por isso morreu pobre.
A viuva, num requerimento que dirigiu a el-rei, mostrando as precárias circunstâncias em que tinha ficado, sem um monte-pio para sustentar a filha e um filho menor, pois que dois já eram oficiais, impetrava-lhe para conceder o fôro de fidalgo cavaleiro com o habito de Christo aquele que casasse com a sua filha Thereza, de 14 anos de idade, em atenção aos serviços prestados pelo pai d'esta e como dotação decretada por el-rei em beneficio da mesma órfã, porque vivia amargurada de tal indigência e de maiores perigos que poderiam dar-se falecendo ela e deixando a ilha na miséria.
Não foi deferida a pretensão e a filha não foi muito feliz.
Dos irmãos de Manuel Alexandre já era capitão-comandante da companhia de infantaria de Cabo Verde em 1826 Anastacio Florindo e feitor da real fazenda, do Fogo, Theodoro Justiniano. Francisco de Paula foi casado duas vezes e teve os seguintes filhos: Cândido, que em 1826 era terceiro escriturário da Junta de fazenda, e Maria; e de D. Margarida Cassanaia, natural da Madeira, segunda mulher, teve Servulo, José, Constança, Camilla e Carolina, ignorando-se o nome de um outro filho que em Cabo Verde morreu ainda criança.
Escreveu este illustre poeta dois poemas que correm impressos: em 1806 a Zargueida e em 1819 a Georgeida. Em 1797 um livro intitulado Poesias líricas.
In Elucidário Madeirense:
Francisco de Paula Medina e Vasconcelos. O conhecido autor da Zargueida, que no seu tempo gozou de grande nomeada como poeta, nasceu na freguesia da Sé desta cidade a 20 de Novembro de 1768, sendo filho de Teodoro Felix de Medina e Vasconcelos e de D. Ana Joaquina Rosa de Vasconcelos. Morreu como desterrado político na ilha de São Tiago, do arquipélago de Cabo Verde, no ano de 1824, tendo 56 anos de idade. Julgamos que é descendente deste nosso ilustre patrício, a distinta família Medina e Vasconcelos, que existe naquele arquipélago. É também oriundo de Francisco de Paulo Medina o grande poeta satírico madeirense Francisco Clementino de Sousa.
Não abundam elementos que nos habilitem a traçar com um certo desenvolvimento a biografia do poeta Medina. Por algumas das poesias contidas no seu volume Poesias Líricas, se conclui que tinha vinte anos quando se matriculou na Universidade de Coimbra, o que deve ter acontecido no ano de 1788, acrescentando que «no espaço só de dois invernos ouviu as doutas prelecções dos sábios que os arcanos explicam das ciências.» Diz o Dr. Azevedo que tendo sido Medina «desde a mocidade sectário das ideias dos filósofos do século XVIII, isso lhe originou, por 1790, o ser preso ano e meio em Coimbra, e, depois, obrigado a sair da cidade, e expulso para sempre da Universidade.» A severidade deste castigo parece indicar que sobre Medina pesavam acusações muito graves, mas que ele inteiramente repudia quando afirma que foi hum falso crime nem por mim pensado. O poeta escreveu duas Epistolas, em verso ao reitor da Universidade D. Francisco Rafael de Castro, sendo uma pouco depois da sua prisão e outra quando «já, senhor, hão passado doze luas depois que choro entre tiranos ferros», cartas destinadas a implorar a protecção do Prelado e a alcançar o seu libertamento, não se sabendo se o estro sentido de Medina comoveria as entranhas do inflexível magistrado, talvez pouco sensível aos lamurientos rogos dum pobre e desamparado estudante. É certo, porém, que poucos meses depois foi posto em liberdade, regressando à terra natal pelos anos de 1792.
A dar credito aos versos de Medina, passou ele uma vida de amarguradas atribulações, tanto na Madeira como no Continente do Reino, que teve um triste epílogo com o seu desterro para Cabo Verde. No período decorrido de 1792 a 1823, fez algumas visitas a Portugal e não sabemos se ao estrangeiro, tendo uma vez estado ausente da Madeira cerca de seis anos. Seria, por certo, durante essas mais ou menos prolongadas demoras no Continente do Reino que publicou alguns dos seus volumes de versos, que saíram a lume em Lisboa nos anos de 1797, 1805 e 1806.
Medina e Vasconcelos, que, no já citado dizer do Dr. Álvaro de Azevedo, se manifestou desde a mocidade sectário das ideias dos filósofos do século XVIII, foi também um acérrimo partidário da Constituição de 1821, sendo por isso envolvido nas redes da alçada que em 1823 veio a esta ilha (vol. I. pag. 32) proceder a uma rigorosa e vexatória devassa acerca dos acontecimentos que se deram entre nós por ocasião da proclamação do primeiro governo representativo que vigorou no nosso país. Os seis magistrados que constituíam a alçada chegaram ao Funchal a 26 de Agosto de 1823 e proferiram a respectiva sentença a 24 de Outubro do mesmo ano. Nela se diz que Medina e Vasconcelos «esquecido dos deveres da honra e de fiel vassalo, e dos vínculos que mais estreitamente o ligavam como funcionário publico, tivera o desacordado arrojo de proferir em publico gravíssimas injurias ofensivas do decoro, veneração e respeito devidos ao Trono e ás reais pessoas de suas majestades, e tão graves que se julgam indignas de se escreverem neste acórdão». Na mesma sentença se afirma que estava filiado na Maçonaria e tomava parte nos seus trabalhos, tendo notavelmente concorrido para a proclamação e estabelecimento do governo constitucional neste arquipélago. Foi condenado «em oito anos de degredo para o Estado de Angola, com inabilidade para os ofícios de Justiça ou Fazenda, e em cinquenta mil réis para o Fisco».
Medina e Vasconcelos morreu na capital do arquipélago de Cabo Verde no ano de 1824, isto é, pouco depois de proferida a sentença que o desterrara para Angola, sendo-nos desconhecidos os motivos que determinaram a alteração da pena quanto ao lugar em que deveria ser cumprida. Este nosso patrício exercia no Funchal o lugar de tabelião de notas, quando foi processado pela alçada e desterrado para Cabo Verde.
Das obras poéticas publicadas por Francisco de Paula Medina e Vasconcelos, temos conhecimento das seguintes: Poesias Líricas de Medina .. Lisboa, 1797, de 245 pag.; Sextinas Elegíacas ao sempre memorável estrago... na calamitosa aluvião do dia 9 de Outubro de 1803, Lisboa 1805, de 24 pag.; Zargueida, Descobrimento da Madeira, Lisboa, 1806, de 254 pag: e Georgeida, Londres, 1819, de XIV-215 pag.. Inocencio, no Diccionario Bibliographico Português faz ainda menção destas composições poéticas: Poesias líricas, Lisboa, 1793; Noite triste a que deu lugar a morte da Ex.ma Srª. D. Carlota Margarida. Lisboa, 1792; Noites tristes de Fileno na ausência de Marília, Lisboa, 1805; e Elegia á deplorável morte do grande e incomparável Manuel Maria Barbosa do Bocage Lisboa, 1806.
Inocêncio, num pequeno juízo crítico que faz das poesias de Medina, diz o seguinte: «como poeta lírico pertenceu à escola francesa; os seus versos são em geral sonoros e bem fabricados, e de certo não lhe faltava naturalidade. Pretendeu embocar a tuba épica; mas vê-se que esta empresa era muito superior ao seu talento, e por isso nos dois ensaios que naquele género compôs, não conseguiu elevar-se jamais além da mediocridade. Há contudo, em um e outro, episódios que não deslustram a sua musa e que se podem ler com gosto».
Das composições de Medina e Vasconcelos, foi a Zargueida a que lhe deu maior renome e ainda hoje é de todas a mais conhecida. É um poema épico em oitava rima, moldado nas formas clássicas da antiga epopeia. Divide-se em dez cantos e contém mais de cinco mil versos. Trata do descobrimento da Madeira por João Gonçalves Zargo, aproveitando o apelido do descobridor para titulo do poema. Contém uma série de interessantes episódios com algumas felizes divagações poéticas, entre as quais avulta a lenda de Machim. E somente no canto X, que se faz a descrição do descobrimento desta ilha. Precede o poema um soneto dedicado a Bocage, a que este insigne poeta respondeu com outro soneto, que é sem duvida a mais bela composição que este volume encerra.
No «Arquivo Histórico da Madeira» e no «Diário de Noticias» de 15 de Julho de 1928, encontram-se algumas informações inéditas acerca do poeta Medina e Vasconcelos.
Inocêncio III, 25: “Francisco de Paula Madina e Vasconcellos, natural da ilha da Madeira, e nascido ao que parece entre os anos de 1766 e 1770. Aos vinte de idade veio para Portugal, com o intento de seguir não sei qual das faculdades em Coimbra: matriculou-se com efeito na Universidade, porém ao fim de dois anos foi preso, por acusações que lhe fizeram de crimes (diz ele) nem pensados! Depois de ano e meio o soltaram, impondo lhe a comminação de sair de Coimbra, e não mais voltar á Universidade. Regressou então para a sua pátria, onde já estava em 1793; porém passados anos veio novamente a Portugal, donde voltou outra vez, fazendo ainda depois novas viagens. Tinha sido provido em um oficio de Tabelião publico de notas na cidade do Funchal, e ai vivia casado, e com filhos, quando em 1823 foi preso e processado pela alçada enviada á ilha da Madeira, para conhecer das pessoas, que se haviam distinguido como partidárias do governo constitucional.
Alguns sofreram diversas penas, e a Medina coube a de degredo para Cabo-Verde por oito anos (segundo me recordo de ter lido na sentença impressa). Partiu para o seu destino, mas chegando á ilha de S. Tiago, nela faleceu pouco depois em 1824. A sr.ª D. Antónia Pussich, que ali residia então com o seu pai, Governador e Capitão general daquelas ilhas, dedicou á memória do infeliz desterrado o seguinte epitáfio, do qual provavelmente se não fez uso, mas que eu vi em um caderno de poesias autografas desta senhora, que um meu amigo possui: «Medina, cuja voz alta e sonora / Heróis cantou os feitos sublimados, / Cumprindo as leis dos carrancudos fados / Nesta campa infeliz se esconde agora.» Este poeta gozou em vida de bastante celebridade; hoje está o seu nome quase de todo esquecido, talvez com pouca razão; porque nas muitas composições que nos deixou impressas há ainda que aproveitar, na opinião de bons entendedores. Como poeta lírico pertenceu á escola francesa; os seus versos são em geral sonoros e bem fabricados, e de certo lhe não faltava naturalidade. Pretendeu embocar a tuba épica; mas vê-se que esta empresa era muito superior ao seu talento, e por isso nos dois ensaios que naquele género compôs, não conseguiu elevar-se jamais além da mediocridade. Há contudo, em um e outro, episódios que não deslustram a sua musa, e que se podem ler com gosto. Uma coisa tenho por vezes notado, e é que em todas poesias deste funchalense se não faça a menor alusão ao seu patrício e contemporâneo Nóbrega; e que nos deste igualmente se não encontre uma só palavra relativa a Medina. Este mutuo silencio prova, a meu ver, que entre os dois existia tal qual rivalidade, ou antipatia pessoal, cuja explicação seria curiosa; porém não estou habilitado a dal-a por agora”.
Pequena biografia de Eugenio Tavares:
A morte da mãe após o parto lança Eugénio na orfandade
Eugénia da Vera Cruz Medina e Vasconcelos (1826-1878) era filha de Atanasio Jose de Vera Cruz e de Isabel Caetana Correia d’Afonseca. Senhora de raras virtudes, era viúva (casaram em 1849 em Nova Sintra) do poeta madeirense Servulo de Paula Medina e Vasconcelos (1818-1854) (filho de Francisco de Paula Medina e Vasconcelos e de Margarida Julia Brazao), foi para Cabo Verde com o Governador José Miguel de Noronha.
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